Não é surpresa que o espelho do atual governo é de absoluta confusão, embora, nos porões, os interesses econômicos da burguesia nacional e internacional estejam sendo implementados. Mas, vamos nos ater à confusão das aparências, seja ela metódica ou real.

Um homem que nunca foi a um debate, por não dominar assunto algum, que nunca foi questionado seriamente, poderia ser diferente uma vez no poder? Se tinha medo da mídia quando candidato, porque iria ter coragem – e competência – de enfrenta-la se não teve sequer na campanha?

O golpe nasceu torto ao derrubar Dilma Rousseff. O pretexto da pedalada poderia ser substituído por qualquer outro. O golpe prosseguiu torto ao condenar Lula sem provas, ao decretar sua prisão, ao mantê-lo preso até hoje para que o atual presidente ganhasse as eleições e não houvesse resistência nas ruas com Lula liderando as mobilizações.

O golpe cresceu torto com fakes, calúnias, a aceitação passiva do processo claramente mentiroso pela mídia, intelectuais, gente que se acha democrata e até políticos que antes se diziam próximos aos interesses do povo deserdado.

O golpe nasceu torto pelo papel dos empresários, do judiciário, dos militares, do parlamento, dos inimigos dos pobres, negros, LGBTs, índios, movimentos sociais e um rio imenso de segregados da sociedade brasileira.

Pois bem, não há surpresa com a ética dos Bolsonaros, não apenas econômica, mas agora com a sombra que as milícias armadas do Rio de janeiro podem lançar sobre todo esse processo.

A expressão "pau que nasce torto, morre torto", aqui no Nordeste ganha um detalhe sutil: "pau que nasce torto, até a cinza é torta".

Não há como ser reta a cinza de um golpe que nasceu torto.


Por Roberto Malvezzi - Gogó