A democracia é uma invenção grega e tem como base a ideia de que a política é o instrumento para resolução dos conflitos sociais, incorporado na luta dos grupos sociais em defesa de seus interesses. A democracia reconhece como legítimo a disputa do poder e entende que é democrático uma sociedade onde os cidadãos podem participar plenamente da disputa política, da produção e distribuição da economia (usufruindo da riqueza social) e da esfera da produção das ideias - a dimensão do simbólico, das das artes à opinião pública. 

Onde estes elementos não estão presentes, não há democracia. Assim a democracia deve ser política, econômica e cultural. 

As experiências políticas até o momento (capitalismo, socialismo e social democracia) não conseguiram garantir a democracia plena.

O capitalismo e a social democracia operam a democracia formal (na lei) mas a política é sequestrada pelos interesses da elite econômica - hoje as elites financeiras, o mundo cultural e da produção das ideias é manipulado pelas empresas midiáticas e culturais num processo de transformar as ideias da elite dominante na opinião pública e a concentração de riqueza impede a maioria da população de desfrutar da riqueza social que ela mesma produz.

O socialismo operou com a ideia de democracia econômica - distribuição equitativa da produção da riqueza, já que é a maioria que a produz, mas impediu a democracia política - a ideia do partido único impediu as disputas entre maioria e minoria - e  a democracia cultural - a padronizada de pensamento impediu a divergência e esta foi vista como perigosa ao sistema. O que era para libertar, aprisionou.

Uns atacam o socialismo por falta de liberdade política e cultural chamando-o de ditadura, mas esquece de atacar o capitalismo, que tem democracia formal, mas na prática as pessoas não são livres e nem tem o pleno direito de escolha. 

Outros atacam o capitalismo pela falsa liberdade de economia, pelo falsa ideia de meritocracia e pela padronização das ideias pela produção da indústria cultural, mas esquecem de atacar a ausência de liberdade política e cultural na experiência socialista.

Os dois grupos agem com dois pesos e duas medidas.

Os que não se alinham a estas formas de pensar o mundo defendem a democracia como sistema social nas dimensões econômicas, política e cultural. Democracia é a radicalização do reino do direito e o exercício permanente da liberdade mesclado com o dever. 

Devemos lutar para superar as experiências dos regimes até aqui dominantes - do capitalismo ao socialismo e instalarmos um sistema social livre de qualquer ditadura, de exploração do homem sobre o outro homem, da violência, da desigualdade social, da padronização da opinião. 

A democracia é um longo caminho a ser trilhado, mas cada passo de sua concretização é uma vitoria a ser comemorada. Ela tem que ser nossa utopia a ser perseguida. As palavras de Fernando Birri, citadas por Eduardo Galeano, define o que chamamos de utopia democrática: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos [sic], ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”


Por Antonio Marcos Santos