A produção da voz depende de quatro componentes: fluxo de ar fornecido pelos pulmões, produção de som pelas pregas vocais (nome correto para as cordas vocais) que ficam na laringe (região do pescoço), ressonância e articulação do som em fala nas estruturas da garganta (faringe, cavidades nasais e bucais), e o controle geral pelo sistema nervoso central. Se um dos quatro componentes citados não trabalharem de forma harmônica, tem-se uma disfonia, ou seja, uma alteração de voz.
A rouquidão intermitente pode ser um dos sintomas de alteração vocal e pode ter diversas causas:
  • → Presença de queimação ou qualquer infecção recente do aparelho respiratório superior
  • → Uso de medicamentos
  • → Cirurgia ou trauma recente no pescoço ou no peito
  • → Intubação orotraqueal recente
  • → Hipotireoidismo
  • → Doenças neurológicas, como Doença de Parkinson
  • → Doenças inflamatórias ou auto-imunes
  • → Uso profissional ou inadequado da voz.
Em relação as alterações vocais devido ao uso profissional ou inadequado da voz podem estar presentes os seguintes sintomas: rouquidão, presença de pigarros, esforço para falar, dor no pescoço, fadiga vocal, tosse, dificuldade em projetar a voz. Chamamos essa alteração de disfonia funcional por falta de conhecimento vocal, modelo vocal deficiente ou alterações estruturais das pregas vocais (sulcos e cistos vocais, entre outros). Estas alterações podem resultar ainda nas disfonias organofuncionais que são causadas por uma série de lesões decorrentes de alterações no comportamento vocal (nódulos vocais ? comumente chamados de calos, pólipos, edema de Reinke entre outros).
Uma pesquisa realizada entre 2010 e 2013 no Centro Ambulatório de Distúrbios de Voz, na Escola de Medicina de Botucatu (Unesp), realizada com professores e outros indivíduos que utilizavam a voz com maior frequência no seu cotidiano, evidenciou que os sintomas de alterações vocais são comuns entre professores. Os nódulos vocais foram predominantes entre os professores, enquanto que os pólipos e o sulco eram mais frequentes entre outras pessoas: pedreiro, bancário, motorista, engenheiro, profissionais da saúde, gerente da loja, vendedor, barman, aluno, serviços gerais, empregada doméstica. O refluxo laringofaríngeo foi predominante em ambos os grupos.
A avaliação fonoaudiológica (perceptivo auditiva) evidenciou alteração vocal similar e a rouquidão foi considerada discreta para ambos os grupos. Os pesquisadores descartaram cantores, porém sabe-se que esta população também pode apresentar alterações vocais por fazerem uso intenso da mesma.
▬ Como evitar a rouquidão?
Todos os indivíduos podem apresentar disfonia em alguma fase da vida, porém quem usa a voz como meio de trabalho está mais propenso a apresentar alguma alteração. Existem alguns cuidados, que chamamos de Higiene Vocal, que são gerais a todos. As dicas abaixo orientam os indivíduos a fazer uso correto da voz e auxiliam no processo de conscientização e prevenção:
  • ► Ingestão de água: Beber água regularmente e em pequenos goles, favorece a hidratação do organismo que promove uma produção vocal sem esforço
  • ► Evitar ambientes poluídos: promove alterações vocais e laríngeas agudas ou crônicas
  • ► Evitar fumar e utilizar bebidas alcoólicas: agridem todo o sistema respiratório, principalmente as pregas vocais podendo causar irritações, aumento de secreção, tosse, pigarro, além de promover o ressecamento das pregas vocais e dificultar a vibração. O álcool também apresenta efeito anestésicos que diminuem a sensibilidade da laringe e podem causar o abuso vocal. O uso do cigarro ainda aumenta as chances de desenvolver câncer de laringe que, quando associado a bebida alcoólica, potencializa o risco
  • ► Alimentação: evite alimentos condimentados, derivados de leite, bebidas gaseificadas, cafeína e alimentos ácidos. Dê preferência a frutas, verduras e alimentos leves. Fazer uso da maça que tem função adstringente
  • ► Evitar gritar, pigarrear, tossir ou sussurrar: O atrito das pregas vocais podem promover irritação e descamação do tecido
  • ► Evitar exposição ao ar condicionado: reduz a umidade do ar e causa ressecamento do trato vocal que induz a produção de fala com tensão e esforço
  • ► Medicamentos: Evite se automedicar. Muitos remédios podem indiretamente causar alterações vocais e sensação de boca seca. Procure orientação médica
  • ► Vestuário: Não utilize roupas apertadas que comprimam região do pescoço e abdome. Dê preferência a roupas leves que permitam a movimentação livre do corpo
  • ► Alterações hormonais: a voz pode se modificar da adolescência, nas mulheres durante a menopausa e períodos pré menstruais. É importante saber as limitações em cada caso e saber controlar o uso da voz e evitar fala continuada por longos períodos
  • ► Alergias: Evite falar muito quando estiver gripado ou em crise alérgica, pois, o trato vocal apresenta-se edemaciado e haverá grande atrito entre pregas vocais durante a produção de fala.
Também é importante conhecer os hábitos que são prejudiciais a saúde da sua voz para que você possa modificá-los:
  • → Falar muito
  • → Falar em competição com ruído
  • → Falar fora de sua frequência habitual
  • → Imitar sons, vozes e ruídos
  • → Ingestão excessiva de cafeína
  • → Consumo de alimentos condimentados
  • → Fumo
  • → Consumo de álcool
  • → Uso de drogas
  • → Permanência em ambientes secos
  • → Inadequação do descanso
  • → Estresse
  • → Uso de sprays e pastilhas anestésicas
  • → Ocorrência de alergias respiratórias
  • → Realização de automedicação
  • → Exposição a mudanças bruscas de temperatura
  • → Inadequação do vestuário
  • → Insuficiência de hidratação
  • → Falta de exercícios físicos
  • → Alterações psíquicas
  • → Alterações hormonais.
▬ Quando procurar ajuda para rouquidão?
Se a rouquidão persistir por mais de 15 dias, procure um médico otorrinolaringologista. A alteração vocal persistente pode estar relacionada a diagnósticos mais graves como câncer de cabeça e pescoço ou a lesões que se identificadas rapidamente podem ser tratadas sem cirurgias.
O diagnóstico médico pode ser realizado com um exame completo de cabeça e pescoço. O diagnóstico fonoaudiológico associa o exame objetivo realizado pelo médico à avaliação vocal que envolve a análise perceptivo-auditiva (se tem rouquidão, aspereza, astenia, entre outros aspectos), o comportamento vocal do paciente, ou seja, se a voz é produzida ou utilizada de forma inadequada (faz muita força para falar, usa um padrão de respiração inadequado, grita ao invés de projetar a voz, etc.) e a demanda vocal (quantas horas o paciente precisa falar por dia, como é o ambiente, a necessidade do mesmo, etc.).

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