Em determinado momento do primeiro episódio do remake de Os Trapalhões, exibido nesta segunda-feira (17), no canal pago Viva, Dedé Santana alerta Didi (Renato Aragão): “Cuidado com o que você vai falar, os tempos são outros”. A advertência era uma clara alusão ao fato de que, como já amplamente divulgado na imprensa, essa versão da trupe de comédia estaria atenta ao politicamente correto e não faria piadas sobre minorias. A ausência desse tipo de humor, que reinou no período em que o seriado original foi ao ar, entre 1977 e 1995, porém, não foi o que tornou intragável a estreia. Foi a ausência de qualquer humor.

As piadas feitas já foram vistas por cerca de três décadas pelo espectador brasileiro, seja no Trapalhões original ou na série A Turma do Didi, que Renato Aragão apresentou na Globo entre 1998 e 2010. De tão batidas que são, a tarefa de arrancar até mesmo um sorriso amarelo do público se torna impossível. O esquete do valentão que entra em um bar quebrando tudo e acaba envenenado depois de roubar a bebida de um Didi macambúzio foi repetida no episódio, com a única diferença que, desta vez, o tristonho era Didico (Lucas Veloso), uma releitura do personagem de Aragão.

Os novos personagens não são nada novos. Didico é uma nova versão de Didi. Dedeco (Bruno Gissoni) é o Dedé do século 21. Mussa (Mumuzinho) é o novo Mussum. E Zaca (Gui Santana), para completar a trupe, é o Zacarias repaginado. Os atores apenas repetem os trejeitos que foram cultivados por quase vinte anos pelos primeiros intérpretes e que estão guardados na memória afetiva do espectador. Estão lá o jeito tão particular de falar de Mussum, trocando o final das palavras por “is” ou “évis”, assim como a risadinha e as caretas de Zacarias. Didi e Dedé aparecem de vez em quando, com algumas participações, como se para dar legitimidade à nova versão.


As piadas são antigas – poderiam ser feitas agora, em 2017, ou quarenta anos atrás, quando o Trapalhões estreou. Os personagens são igualmente repetidos e anacrônicos. É difícil entender por que o canal Viva e a Globo, que deve exibir o remake em setembro, resolveram investir nessa releitura. O programa, muito provavelmente, não vai conquistar um público novo, jovem – que quase nem assiste mais à televisão tradicional. O seriado, tampouco, vai agradar inteiramente que já era fã dos Trapalhões: esse público, certamente, iria preferir ver a reprise da série original.


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