Certo dia, ajudando seu filho de três anos, que estuda em uma escola particular de Pernambuco, a fazer a lição de casa, Aline Lopes, de 30 anos, se deparou com os seguintes enunciados no livro didático recomendado pela escola:


Em post no Facebook, Aline postou imagens da lição com a seguinte legenda: "Tarefa de casa de​ Nauã, 3 anos de idade. Encontre o erro."

Em outro post, anterior, ela comentou o assunto, sob a perspectiva de uma mãe branca que começou a vivenciar o racismo através da experiência da maternidade.

"Tive de começar a sentir o peso do racismo dentro da minha casa depois que os meus dois filhos nasceram. Aymê, de 5 anos, e Nauã, de 3, são duas crianças negras. Desde então, eu tenho de lidar com coisas desagradáveis, as quais nunca passei na minha infância".

▬ Confira o post na íntegra:

Eu, Aline, sou uma mulher branca. Por tal motivo, nunca me senti excluída ou socialmente privada do que quer que fosse em função da minha pele clara. 
Desde sempre sou engajada em movimentos sociais na luta pela construção de uma sociedade mais justa e igualitária para todos.
Entretanto, tive de começar a sentir o peso do racismo dentro da minha casa depois que os meus dois filhos nasceram. Aymê, de 5 anos, e Nauã, de 3, são duas crianças negras.
Desde então, eu tenho de lidar com coisas desagradáveis, as quais nunca passei na minha infância.
Já teve professora que prendia o Black da minha filha na escola. Já teve coleguinha discriminando, mesmo sem entender direito o pq. Agora teve livro perpetuando o negro sempre na pior representação possível. O negro triste. Feio. Servente.
Nunca é o negro médico, professor, advogado, e etc.
Não há demérito nenhum em ser servente. O problema é que esse é o lugar que sempre cabe ao negro. 
Minhas crianças precisam aprender que elas podem E DEVEM ocupar todos os espaços.
Que embora a sociedade diga que não, eles tem todo o direito de crescer em igualdade.
Eles ainda não tem a devida noção do quanto o racismo os afeta e ainda afetará, isso é bem verdade.
Mas até lá, o peso de sentir a tristeza e indignação que isso causa, são meus. 
Eu sou mãe solo. O pai de Aymê e Nauã não participa da educação e da vida dos mesmos.
Cabe a mim essa responsabilidade. E que responsabilidade!
Logo, o que faz uma pessoa que sai da casa de chapéu vir numa publicação minha e achar que pode tripudiar e simplificar uma história que dói EM MIM?!
Que dói e mata tanta família todos os dias. 
O que vai ser preciso pras pessoas entenderem que fazer de conta que o problema não está lá não vai fazer com que ele acabe?
Humanidade minha gente, empatia! Cadê?!
Por essa razão, eu não vou admitir qualquer discurso falacioso e que pregue o mito da "racismo não existe".
Nesse momento eu preciso de solidariedade e mentes abertas a construir.
Sororidade. Não preciso de ninguém me dizendo que eu "estou criando meus filhos errado". Podendo me poupar, me poupem.
Eu sou mãe, sou pai, trabalho e estudo, cuido da educação deles, saúde, sustento. No tempo que sobra, cuido de mim.
Se você não sabe do que tá falando, o melhor é que fique calado. Por que eu sei, e vou falar muito mais!
Machistas, racistas, não passarão!
Desculpa o textão, mas passei o dia com esse nó na garganta, esse choro travado de quem não tem tempo pra chorar pq se o racismo não dorme, a gente também não vai.
Gratidão a quem acolheu a minha indignação e a quem tem tentado de alguma forma ajudar.

Os posts tiveram mais de 460 compartilhamentos e repercutiram na imprensa nacional pelo teor racista das representações propostas pelo enunciado.

Aline ainda relatou que, em conversa com o colégio particular do filho, a direção da instituição informou à ela que a não compactuava com nenhum tipo de preconceito, mas que não seria possível deixar de usar o livro por conta do contrato firmado com a editora.

A editora responsável pelo livro compartilhou em seu Facebook uma nota sobre o assunto



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