Em seu primeiro depoimento ao juiz federal Sergio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato em Curitiba, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) contradisse o presidente Michel Temer em relação à nomeação de um diretor da Petrobras. Em dezembro, em resposta por escrito às perguntas formuladas por Cunha na ação penal em que ele é réu por supostamente ter recebido propina em um contrato da petrolífera, Temer negou, na condição de testemunha, ter havido uma reunião no Palácio do Planalto em 2007 cujo assunto teria sido a ocupação de cargos na Petrobras.

Não houve essa reunião. Mas chegaram-me informações de que as nomeações ocorreriam”, respondeu o presidente. Segundo o ex-presidente da Câmara relatou a Moro, no entanto, Michel Temer e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), então deputados federais, foram chamados à reunião no Planalto com o então ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia.

De acordo com Cunha, o encontro era para “acalmar” o PMDB, que se rebelara contra o governo do ex-presidente Lula na votação da derrubada da CPMF na Câmara depois de o PT descumprir um acordo para nomeações na Petrobras e na BR Distribuidora. “A resposta do presidente Michel Temer está equivocada. Ele participou, sim, da reunião e foi ele quem comunicou a nós o que tinha acontecido”, disse o ex-deputado federal.

Depois do “retorno” de Temer e Alves, segundo Cunha, o deputado Fernando Diniz (PMDB-MG) teria indicado Jorge Zelada à diretoria da Área Internacional da Petrobras. Sucessor de Nestor Cerveró na diretoria, Zelada é apontado pelo Ministério Público Federal como responsável pelo contrato de compra, pela Petrobras, de um campo de petróleo no Benin, na África, que teria rendido 1,3 milhão de francos suíços, o equivalente a 1,5 milhão de dólares.

Apontado pelo delator Eduardo Musa, ex-gerente da Petrobras, como dono da “palavra final” nas indicações na Área Internacional da Petrobras, em 2007, quando Zelada foi indicado, o ex-presidente da Câmara minimizou sua importância no partido e afirmou que havia peemedebistas mais influentes do que ele, como Temer, Alves e o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA).

Eu não tinha nem a palavra final nem a inicial. Em 2007, eu não tinha a condição política de ter a palavra final de qualquer coisa. Eu não tinha essa projeção e esse poder que querem me atribuir. De ser o único cara que dá a palavra final, quando o presidente do partido era o Michel Temer, que hoje é presidente da República, o líder Henrique Alves, que foi presidente da Câmara, ministro e governador… Teve personagens como Geddel, Fernando Diniz, muito mais fortes coordenando a bancada”, disse o ex-deputado a Moro.


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