Black Friday se consolidou no Brasil e ajudou a movimentar as vendas de final de ano. Mesmo assim, consumidores ainda têm um pé atrás sobre o evento. Apesar de lojistas prometerem descontos arrasadores -- alguns chegam a 80% -- nos mais diversos produtos e serviços, tantas "promoções" valem mesmo a pena?
O ReclameAqui, site que recebe reclamações de consumidores sobre empresas e serviços, monitorou o histórico de preços de 1.200 produtos em 105 sites de varejistas. O resultado? A pesquisa mostrou que muitos ainda praticam a conhecida "maquiagem nos preços", que seria o aumento dos valores semanas antes da Black Friday para "inflacionar" as promoções. No final das contas, o preço é o mesmo de meses atrás. Por exemplo, uma geladeira da Brastemp, no site do Walmart, estava R$ 1.499 em 10 de novembro deste ano e saltou para R$ 1.798 oito dias depois -- uma variação de 19,9% em tão pouco tempo. A maquiagem nos preços, aliás, foi o principal motivo de reclamações de consumidores ao Procon-SP na Black Friday do ano passado.
Neste ano, por outro lado, o e-commerce promete menos problemas. Segundo Ricardo Bove, diretor-geral da Black Friday Brasil, os altos índices de reclamação nas primeiras edições não devem se repetir neste ano. "Em 2012, ninguém estava preparado para tanta procura. Os lojistas não tinham estoque, não sabiam lidar com o evento. Eles foram aprendendo nos últimos anos, se preparando mais para a data. Esse ano, os lojistas vão estar com mais produtos disponível e oferecer mais descontos". A expectativa é compartilhada por Thiago Flores, diretor executivo do Zoom, site de comparação de preços. Ele garante que todas as categorias e varejistas devem aproveitar o evento para desencalhar os produtos e ainda afirma que a data é a melhor época do ano para garantir aquele desejado produto. "Todas as categorias devem ter desconto, mas varia muito da estratégia e do estoque da loja".
Melhor época do ano para as compras? Apesar das expectativas serem altas para o evento, o consumidor precisa ter cuidado e não perder o foco. Primeiro porque tantas promoções podem levá-lo ao endividamento e até à inadimplência, segundo porque outra data do ano pode apresentar preços ainda mais arrasadores. "Além de fazer a pesquisa básica dos preços, você precisa ser franco com seu orçamento e ter em mente que o começo do ano é o terror financeiro", ressaltou o consultor financeiro, advogado especializado em direito do consumidor e ex-diretor do Procon de Mogi das Cruzes, Dori Boucault. "Vem o Natal, depois férias, Carnaval, IPVA, IPTU, matrículas escolares... Você precisa saber se a gastança na Black Friday vai impactar nas despesas dos próximos meses".
Além disso, o consultor financeiro recomenda muita cautela com as promoções na Black Friday, uma vez que a maquiagem nos preços é bem comum e os lojistas querem garantir o faturamento do final de ano. A edição da Black Friday cai no dia 25, ou seja, um mês para o Natal. A data é uma das melhores épocas do ano para os lojistas, já que há grande demanda e os consumidores receberam o 13º salário. Segundo o consultor, isso significa que os preços não devem ser tão atrativos como em outras épocas do ano. Janeiro, por outro lado, é um mês em que historicamente são realizados muitos saldões para a troca de estoque e, com pouca demanda, uma vez que os consumidores já adquiriram os produtos durante as festas, os preços tendem a ser bem vantajosos.
"Muitas pessoas esperam passar a Black Friday, o Natal e Ano Novo, e só em janeiro vai adquirir o produto", acrescenta. "É claro que o consumidor corre o risco de não conseguir muitas opções de produtos, mas os descontos são bons, sobretudo para a linha branca". Para aqueles que não podem esperar, Dori lembra que as promoções não invalidam os direitos do consumidor, muito menos a tentativa de conseguir um desconto maior em compras à vista. "Não existe parcelamento sem juro. A verdade é que eles embutem os juros no valor da compra. Por isso, quando se paga à vista, é preciso pedir um desconto, mesmo que o produto já esteja em promoção". Quem for comprar pela internet, os cuidados devem ser redobrados.
"Existem picaretas de plantão que vão tentar emplacar uma oferta maravilhosa pedindo dinheiro à vista. Procure saber sobre a reputação do site no ReclameAqui, no Procon, Proteste ou na Senacon, além de perguntar para amigos que já compraram no site. Também não é recomendado pagar à vista compras pela internet, porque se tiver algum problema com o produto, será mais difícil recuperar o dinheiro".



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